Orfeu
Orfeu é uma das figuras mais conhecidas da mitologia grega e
foi o poeta e o músico mais famoso de sua época. Ele foi um dos tripulantes do
navio Argo em busca do Velocino de Ouro (como foi citado na estória de Jasão) e
sua música evitou que as sereias enfeitiçassem os Argonautas.
Para alguns, ele era
filho do deus Apolo, por causa de sua beleza e poesia. Na verdade, ele era
filho do rei trácio Eagro e de Calíope, uma das nove Musas. Apolo fez dele seu
protegido e lhe deu a sua lira e as nove sacerdotizas de Zeus o ensinaram a
tocar. Suas músicas eram tão suaves que as feras o seguiam, tudo o que era
inanimado ganhava vida e os homens mais coléricos se sentiam penetrados pela
doçura e bondade. Mas a poesia de Orfeu não agradava a todos. O deus Dionísio,
enciumado pela fama do poeta, o amaldiçoou com uma morte trágica.
Orfeu rodeado de animais
Nessa época reinava
nos bosques da Tessália, uma feiticeira perversa e muito poderosa: Aglaonice.
Ela tinha horror a Orfeu, por ele cultuar Apolo, o deus-sol, pois era adoradora
dos cultos sombrios da deusa da lua, Hécate. Ela ainda conduzia um bando de
mulheres selvagens, as Mênades, que viviam nas florestas e eram seguidoras de
Dionísio (ou Baco na mitologia romana).
As Mênades (ou
Bacantes na mitologia romana, originadas de Baco) eram ao mesmo tempo mágicas,
sedutoras e sacrificadoras de vítimas humanas. Muitos homens desapareceram ao
passarem desprevenidos pelo interior dos bosques onde elas habitavam. Primeiro,
elas faziam eles de escravos, seduzindo com sua volúpia, depois os dominavam
pelo terror.
Ninguém conseguia
explicar o tipo de mágica que atraía homens e mulheres para o interior dessa
vegetação sombria em que elas moravam. O lugar era todo envolto sob uma névoa
asfixiante, e a todo momento, sentiam-se baforadas de perfume como um hálito
quente de desejo voraz. Depois ouviam-se gritos e cem bacantes rodeavam a
vítima com suas lanças. Mas não era muito difícil de compreender a força que
essas mulheres exerciam. Elas viviam semi-nuas com peles de leopardo e
domesticavam panteras e leões, que faziam figurar nas suas festas. De noite,
elas apareciam com serpentes enroladas no braço e dançavam lascivas, em volta
da imagem de Hécate. E coitado do curioso que fosse espiar. Ele era dominado,
esquartejado e oferecido em sacrifício.
Muitas virgens eram
conduzidas para esses lugares, levadas por um encanto, e lá chegando, eram
corrompidas e convertidas ao culto de Baco. Foi uma dessas virgens que Orfeu
salvou. Ela se chamava Eurídice e certo dia caminhava perto do bosque das
Bacantes, atraída pelos sussurros e risadas que vinham de longe. Então ela se
esgueirou para dentro da floresta, num misto de curiosidade e ansiedade. Orfeu,
que passava por perto, se assustou com o vulto da jovem e correu em seu
encalço. Eurídice caminhava determinada, como que atraída por um poder mágico.
O poeta segurou ela pelo braço e perguntou o que fazia sozinha naquele lugar.
Ela deu um grito de susto, como se estivesse acordado de um sonho, e caiu nos
braços de Orfeu. Assim eles se conheceram e se apaixonaram. Contudo, seus
destinos não incluíam a felicidade.
Orfeu e Eurídice
Na noite de núpcias,
eles caminhavam perto do rio Peneu e Eurídice se afastou para se banhar, quando
viu um caçador, Aristeu, que a observava. Ela se assustou e saiu correndo. Sem
querer, pisou numa cobra venenosa que lhe picou o calcanhar. Na verdade, a
cobra estava ali sob o encanto de Aglaonice, que observava tudo através de um
globo. Eurídice morreu instantaneamente e Orfeu, desesperado, decidiu ir até o
reino de Hades, na esperança de reavê-la.
Com sua música suave,
ele conseguiu persuadir Caronte, o barqueiro, a conduzi-lo até o outro lado do
rio Estige, para os portões do inferno. Fez com que o cão Cérbero se acalmasse,
as Fúrias se aquietassem, as Moiras parassem de tecer o fio do destino e todos
os deuses e divindades das profundezas se comovessem diante de seu sofrimento.
Perséfone, num gesto de generosidade e comoção, consentiu que Orfeu levasse
Eurídice de volta à terra, mas impôs uma condição: ouvisse o que ouvisse, ele
não poderia olhar para trás, até que alcançassem a saída. Ele aceitou a
imposição e Eurídice foi atrás dele por entre as obscuras passagens em direção
à luz, guiados apenas por sua lira. Quando chegaram perto da saída, uma dúvida
terrível lhe cruzou o espírito e pensou que poderia estar sendo enganado. Para
se certificar, ele olhou para trás e viu Eurídice, mas logo em seguida sua
amada se transformou numa sombra que se esvaiu, desta vez para sempre.
Mergulhado na dor e
na solidão, Orfeu optou por uma vida de pregações, se tornando um guia
espiritual que alertava os trácios sobre os malefícios que os cultos sombrios à
deusa Hécate e ao deus Baco poderiam trazer aos homens. Aproveitando-se da
fragilidade do poeta, e para a alegria de Dionísio, Aglaonice fez com que as
Bacantes alcançassem Orfeu nas proximidades da floresta onde ele descansava.
Elas não só mataram ele, como o fizeram em pedaços. As Musas recolheram os
restos mortais do poeta e enterraram ao pé do monte Olimpo, onde os pássaros
cantavam a música mais doce do mundo. E sua lira voou para o céu, convertendo-se
numa constelação.
Referências
http://mitogrego.zip.net